terça-feira, 19 de abril de 2011

"Quem vai ao mar, avia-se em terra".

"Quem vai ao mar, avia-se em terra".

O sonho de empreender uma viagem sem rumo nem hora para terminar, começou há mais de 12 anos enquanto eu arrastava a minha familia de país em país, em decorrencia da minha carreira professional. No entanto, o nosso amor pelo Mar e pelos barcos, foi herança de nossos pais e, no meu caso pessoal, de duas gerações anteriores a meu pai.

No caso da Jana, o Sr. Jose Manuel, meu sogro, foi um remador olímpico campeão durante mais de 10 anos fazendo com que as filhas tivessem atravessado toda a sua infância em contacto com o Mar e com os barcos. Isso, sem contar com as aulas de mergulho que percocemente teve quando o Jose Manuel deixou o remo e singrou pela carreira de mergulhador profissional. Ainda na juventude, Jana apaixonou-se pela a arte paciente da pesca consolidando assim, toda a sua paixao.

No meu caso, a herança é mais profunda. Contava meu pai, que o seu avô havia ingressado no final do século IX, trabalhando nas flotilhas de barcos bacalhaueiros portugueses que passavam ate 9 meses na Terra Nova e na Groenlandia pescando o tão apreciado bacalhau, alimentação dos menos favorecidos naquela época. Meu avô, o qual eu tive a honra de conheçer e com quem convivi até aos 12 anos de idade, ingressou na Marinha de Guerra portuguesa, como “moço de convez”, muito antes de cumprir 18 anos. Quando eu nasci, meu avô tinha uma fábrica de salgar peixe que era aliemntada por barcos pesqueiros que ele mesmo construía na area da fábrica. Ou seja, eu nao germinei com o tempo as sementes do amor ao Mar. Elas ja vieram comigo germinadas.

Para pularmos de praia em praia ou de porto em porto com um barco, necessitamos antes de mais nada de ter um. Um que seja valente, marinheiro, que não “corra da raia”, que seja confortável, económico de operar e de manter e acima de tudo, que tenha Alma. A Alma é algo muito importante em um barco. Em outras postagens, abordarei mais profundamente sobre a necessidade de que um barco tenha Alma, e que conceito é esse
Me lembro bem que os barcos construídos de forma empírica pelo meu avô e seus associados, a “olho nu”, sem desenhos ou cálculos complicados de engenheiria naval, seguiam todos as mesmas linhas, muito populares na época, e que ainda hoje são raramente encontrados. Eram os famosos Malahides. Tinham esse nome por terem sido construídos por primeira vez, aí pela década de 20, em uma vilazinha com o mesmo nome na costa da Irlanda. Mas, dizem os portugueses, que o desenho original era de um portugues que construía barcos na mesma década em Leixões, noroeste de Portugal. Até a decada de 70, era fácil ver desses barcos maiores ou menores, fazendo cabotagem na costa de Angola e Congo.

Foto de "Ursa Major", um Malahide genuino construido em 1965 e que ate hoje faz charter no Alaska. http://www.myursamajor.com/

Lamento imenso que o nosso barco não tenha as mesmas linhas. Optamos no entanto, por linhas que nos instigam confiança quando Neptuno se põe de mau humor. Para desenhar meu barco, optei por profissionais que não só estao respladados por vastos conhecimentos técnicos de arquitetura e engenheiria naval, como têm acumuladas dezenas de milhares de milhas naúticas navegadas em barcos, desenhados e feitos por eles mesmos, como tambem por imensas uindades de sua autoria navegando nos 4 cantos do mundo. Cabinho e Luis, obrigado pelo tremendo barco que se esta formando.

Tambem optamos por materiais nobres, naturais, com cor e cheiro autênticos e, por seus antecedentes como seres vivos, ja veem com Alma como equipamento básico. Nosso barco está sendo construido em madeira com epoxi pelo Estaleiro Flab. Optamos por esse estaleiro depois de nos surpreendermos com a paixão, a dedicação e até o amor, com que o Flávio e sua turma abraçam qualquer fase da construção de um barco, fazendo-o único e personalizado. É, não restam dúvidas, uma questão de vocação nata e amor á arte da construção naval e de fazer amigos!

Na proxima postagem explicarei porque escolhemos um Trawler e o que define um.